Das 19h às 21h, o público foi agraciado com um bate-papo incrível sobre a produção cultural e musical do Distrito Federal. Anapolino e Clodo do Matuskela, Breno Alves do 7 na roda, e João Ferreira e Kiko Peres da banda Natiruts compartilharam suas histórias, suas inspirações e suas visões sobre a cultura do quadradinho, além disso encantaram a todos ao darem uma prévia de algumas de suas canções. Ficou curioso? Então continue lendo e confira os melhores momentos do “Expresso Cabeças”!
Breno Alves do 7 na Roda:
O evento “Expresso Cabeças” iniciou com uma entrevista incrível de Breno Alves, jornalista e músico do grupo 7 na Roda, que contou um pouco da sua trajetória artística e da sua relação com o samba. Breno falou sobre como se interessou pelo gênero na adolescência, quando ouviu Cartola na rádio, e como se aprofundou na sua ancestralidade e na história do Brasil para entender a origem e a importância do samba. Ele também comentou sobre as dificuldades que enfrentou para concluir a faculdade de jornalismo e para pesquisar sobre o samba em Brasília, uma cidade nova e com pouca documentação sobre o tema.
“Para gostar de samba, tive que me aprofundar na minha ancestralidade e na história do Brasil.” (Breno Alves)
Breno destacou o papel do Calaf durante a década de 2000 a 2010, uma das casas que ajudaram a formar público e a divulgar o samba na capital federal, e compartilhou suas perspectivas otimistas para o futuro do gênero na cidade, onde ele escolheu permanecer e contribuir com um legado singular. A entrevista foi repleta de informações, insights e curiosidades sobre as raízes do samba e do choro na capital, assim como um reconhecimento para a cena adaptativa do gênero no território.
"O fato de Brasília ser uma cidade nova, comparada com as restantes, nos dá a oportunidade de criar uma nova história e um novo legado. Por mais que os outros eixos, do Rio e São Paulo, sejam grandiosos, ficar em Brasília dá abertura para contribuir com algo diferente e singular." (Breno Alves)
Anapolino e Clodo (Matuskela):
A segunda parte do evento “Expresso Cabeças” foi uma entrevista incrível com Anapolino e Clodo, dois músicos e compositores que fizeram parte da banda Matuskela, uma das pioneiras do rock em Brasília. Eles falaram sobre como começaram a tocar covers dos Beatles e de Creedence, mas depois buscaram uma identidade própria, misturando o rock com o MPB e as influências nordestinas, se identificando com o gênero folk psicodélico, citando os Mutantes, os Beatles e o movimento da Tropicália como suas referências.
Eles também contaram sobre os desafios que enfrentaram na época da ditadura militar, quando havia censura e repressão, e compararam com os problemas atuais, como a falta de liberdade criativa imposta pela indústria musical.
"Hoje os músicos são reféns da indústria. É preciso agradar a produtora e os empresários, cantar para um público pré determinado" Anapolino (Lino)
Eles elogiaram a riqueza e a capacidade artística de Brasília, que sempre teve artistas nacionais. Também relembraram o sucesso da canção “A Idade do Louco (Velho Demais)”, que foi trilha sonora da novela “Sem Lenço e Sem Documento” da TV Globo. Aprofundando nessa questão, comentaram sobre a origem dos músicos que gravaram a música, contemplando a diversidade dos artistas do entorno que fugiam da restrição à música clássica, a única que era ensinada na escola de música de Brasília.
"Os músicos que gravaram o tema para a novela eram todos de Taguatinga. Na periferia sempre houveram grandes músicos que queriam se aventurar em fazer coisas novas e ainda hoje tenho certeza que isso permanece." (Anapolino, Lino)
A entrevista foi uma verdadeira aula de história e de cultura, que mostrou a trajetória e a importância do Matuskela para a música de Brasília e do país. Ao final, Clodo cantou um trecho de uma de suas composições “Revelação”, interpretada por Fagner, se consagrando como esse artista que - com mais de cem canções gravadas por grandes intérpretes da música popular brasileira - carrega de fato a identidade do DF consigo.
Kiko Peres e João Ferreira (Natiruts)
Os músicos Kiko Peres e João Ferreira da banda Natiruts - uma das maiores referências do reggae brasileiro - foram os últimos entrevistados da noite e contaram um pouco da história, das influências e dos desafios da banda que nasceu em Brasília nos anos 90.
Contando sobre o período de consolidação da banda, houveram muitas inspirações sendo as principais Bob Marley e Djavan, e no processo de se tornarem artistas reconhecidos, incluíram na pauta algumas dinâmicas de produção musical da época. Comentaram sobre a importância do investimento de políticas de apoio à cultura, como o Fundo de Apoio à Cultura (FAC) para oportunizar a produção e distribuição de artistas locais.
O primeiro álbum “Nativus” (1997), foi lançado com um show na rampa acústica e gravado de maneira independente. Vendendo muito bem na cidade, foi assim que as gravadoras começaram a notar a banda.
“Os representantes de gravadoras chegavam em lojas de discos, e os próprios proprietários alertavam sobre artistas que estavam vendendo bem. Em uma dessas, comentaram sobre a gente para alguns representantes." (Kiko Peres)
Na segunda parte da conversa, Kiko e João adentraram mais nas características e escolhas musicais da banda e do como ela se diferencia não somente no cenário nacional como também no internacional. Kiko comentou que em festivais internacionais, quando o Natiruts tocava, o uso incomum do violão na composição dava uma dimensão muito característica a um tipo de sonoridade que ficou conhecida fora do país como o “Reggae Brasileiro”.
"Natiruts acabou vindo com a concretização do "Reggae brasileiro", usávamos muito o violão e isso fortaleceu muito a identidade da banda pra fora, ficou muito característico." (João Ferreira)
Eles também explicaram por que continuam morando em Brasília, apesar de terem tocado em todo o Brasil. Para eles, a cidade apresenta um estilo de vida ideal para que a banda continue se mantendo. Além das memórias afetivas, a cidade apresenta possibilidades aéreas que não os restringe de transitar pelo país e permanecer na capital.
O Expresso Cabeças, assim como todo bom momento de pausa para um café, se encerrou com um gostinho de quero mais - no melhor sentido da expressão. Apenas por reunir tantos artistas tão significativos, que carregam trajetórias tão importantes, já faria com que o evento fosse considerado um sucesso. Mas para além disso, todas as trocas feitas ali resultaram em uma rica construção de como foi, está e como pode ser o cenário cultural brasiliense, com momentos que emocionaram e causaram um impacto nos presentes.
Pode-se afirmar que o principal aprendizado do evento foi entender que valorizar a cultura local não significa rejeitar influências externas, mas sim integrá-las em um caldeirão cultural enriquecedor. Um evento como o Expresso Cabeças é fundamental para a preservação e valorização da cultura do quadradinho. Quando os convidados relatam como foi sua trajetória para chegar no patamar onde estão, fica claro como é importante manter vivas as raízes e a identidade da nossa comunidade, pois é isso que torna o Distrito Federal uma região tão única e autêntica.
Nós do Café FAC, agradecemos a todos os envolvidos. Além de ter sido um prazer realizar um evento significativo como esse, foi muito gratificante proporcionar esse momento para todos os que estiveram presente e acompanharam a nossa jornada. Esperamos vocês nos próximos que virão e os convidamos para que continuem acompanhando nossos canais. Somente ao reconhecermos o valor típico da nossa cultura local e ao apreciarmos os diversos artistas que emergiram daqui, é que podemos construir uma identidade do DF rica e inclusiva, consciente do seu passado e do seu futuro.